domingo, 4 de maio de 2008

Melhor Idade Versus Pior Idade


Melhor Idade, Terceira Idade, não importa a denominação, todos os termos poderiam ser substituidos por " Dignidade".
O que afinal de contas estamos fazendo com nossos queridos "Velhos"...fico cada vez mais , chocado e muito triste por perceber que este mundo em que estamos, tão seguro de si e tão altruísta de seus valores e desenvolvimento técnológico..tão vaidoso por conseguir perpetuar coisas e valores que intrínsecamente não querem dizer absolutamente nada...uma verdadeira "Apologia ao Efêmero". Coisas valem muito mais que pessoas...os bens materiais ultrapassaram em muito os valores morais...nossos queridos Progenitores e todo nosso passado, nossas origens estão sendo literalmente jogados no lixo...que pena...que triste constatar que depois de tanto caminhar na verdade o mundo esta retrocedendo..seria este o preço da evolução?...Não sei.
Resolvi hoje partilhar com vocês um artigo que li na Folha de São Paulo, muito bom, espero que gostem e que isto ajude a quem ler a refletir um pouco sobre isso...Amemos nossos pais, nossos tios, respeitemos os mais velhos e prestemos à eles todas as homenagens que com certeza eles são dignos de receber...são nossas origens e devemos nos orgulhar disso tudo!

Envelhecer dói

Qual o valor da experiência de vida? No Brasil, quase nada. Envelhecer no nosso país é quase um pecado mortal. É uma condenação em vários sentidos. Ser idoso por aqui é “ganhar” da medicina a capacidade de se manter vivo por mais tempo e perder para a tecnologia o direito ao respeito e ao sentimento de continuidade.

Vivemos em um tempo em que os conceitos de objetividade estão supervalorizados em detrimento da sabedoria subjetiva. Só tem valor o conhecimento cartesiano( penso, logo existo) e que possa ser transformado em dinheiro imediato. Experiência de vida vale muito pouco na hora de disputar uma vaga de emprego.

Aliás, as pessoas mais velhas só tem valor para as agências de turismo que criam roteiros para aumentar seus lucros. Os aposentados, estão, são muito interessantes... para as instituições financeiras interessadas nos juros e lucros certos obtidos com os empréstimos para este segmento.

Passar dos 50 significa uma ameaça para os planos de saúde ávidos por dinheiro fácil. Encontro de gerações é ficção científica atualmente. Foi-se o tempo em que o respeito aos mais velhos era pré-requisito em qualquer família e condição básica na ética da convivência.

A qualidade de vida não está resumida ao sentir-se bem fisicamente. É preciso dignidade. E isso a tecnologia e a máquina de consumo não nos oferecem.

Para começar, a família é uma instituição em vias de extinção nas médias e grandes cidades. Compromissos familiares, então, nem se fala. Vive-se a transitoriedade plena. A cada dia o conceito de continuidade é cada vez mais esquecido.

É preciso questionar este mundo transitório pelo qual somos empurrados. Enquanto a transitoriedade valoriza o presente e a circunstância, a continuidade da mais ênfase a uma ligação das partes – jovem e idosa, masculina e feminina, de modo a constituir um conjunto vivo, com objetivo comum no qual a energia dos laços e afetos de família é dada e partilhada.

As novas gerações vivem intensamente o presente como se não houvesse futuro e passado. Nossa sociedade desvaloriza o passado.

Numa sociedade dominada pela sedução do presente, os idosos estão destinados a parecer gradualmente menos importantes.

O domínio da tecnologia na sociedade atual faz com que sejamos levados a respeitar a opinião de um computador em detrimento da opinião de uma pessoa. Os mais velhos são tratados como ultrapassados pelas famílias. Tornam-se, então, um estorvo na dinâmica impessoal das relações humanas.

O sucesso materialista de uma sociedade pode, certamente, transforma-se no palco o seu eventual fracasso. Pensar apenas no presente faz do efêmero uma seita.

Na antiguidade, os gregos já haviam chegado à conclusão de que, paradoxalmente, somos mais vulneráveis quando nos sentimos fortes. Na atualidade, tudo o que não é imediato e objetivo perde totalmente seu valor.

A ética do materialismo se infiltra na vida das pessoas, de modo tal que rompe o tecido de valores da sociedade. O egoísmo do atual modelo social desintegra a família tradicional e os laços de lealdade e amor que unem seus membros.

Em qualquer época, os idosos são a personificação biológica do tempo passado. Na medida em que o passado é desvalorizado, também os idosos serão desvalorizados e considerados socialmente descartáveis.

Dentro deste quadro, os mais velhos, sentindo-se ultrapassados, acabam perdendo o respeito por si próprios e, num gesto socialmente estimulado pela propaganda, passam a imitar cada vez mais os jovens. A conseqüência disto é que a família terá perdido um de seus bens mais valiosos, o sentimento de continuidade.

A velocidade dos acontecimentos neste século 21 afasta qualquer ilusão de renascer de uma família tradicional. É necessário criar novas tradições familiares. O amor e o respeito são as únicas forças capazes de restituir a integridade de uma família ede uma sociedade.

É preciso estar aberto para o fato de que transmitir princípios de conduta de uam geração para a seguinte requer empenho e um esforço determinado. A mera reprodução física da raça humana não garante a sobrevivência dos idéias da sociedade.

USHITARO KAMIA

Advogado, vereador da cidade de São Paulo

Folha de São Paulo – Caderno Tendências e Debates – 02 de Maio de 2008